11ª Reunião Anual do Conselho Global de Pesquisa (GRC)

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Teve início no dia 29 de Maio de 2023, em Haia, nos Países Baixos, a 11ª Reunião Anual do Conselho Global de Pesquisa (GCR) – entidade que reuniu 81 agências de financiamento público à pesquisa de 63 países oriundos de todos os continentes. A Organização Neerlandesa para a Pesquisa Científica (NWO) e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) foram as anfitriãs da edição de 2023, que discutiu dois temas principais: “como recompensar e reconhecer cientistas” e “pesquisas sobre mudanças climáticas”.

O objectivo final era que as agências-membro endossassem a declaração de princípios e práticas, para cada tema, que deverá servir de guia dos trabalhos desenvolvidos nessas áreas.

 A declaração de princípios é importante porque cria um conjunto de valores comuns que facilitam a cooperação científica. Quando for preciso fazer a avaliação de mérito de um projeto, por exemplo, todos estarão alinhados. Não é um documento obrigatório, não tem implicação legal, mas é um compromisso que os financiadores de pesquisa assumem em prol do desenvolvimento científico.

Os temas de 2023 foram propostos pelas agências organizadoras, NWO e FAPESP, que ficaram também responsáveis por elaborar a versão preliminar dos documentos. Esses documentos foram amplamente discutidos ao longo de 2022, tanto na reunião do Executive Support Group (Grupo de Apoio Executivo) ocorrida em setembro, como nas cinco reuniões regionais: Américas, Ásia-Pacífico, Europa, Médio Oriente e Norte da África e África Subsaariana(Onde o FNI é parte integrante). As realidades são muito distintas em cada uma das regiões. E essas reuniões prévias permitiram incorporar ao documento as diferentes visões sobre os temas.

Uma vez aprovadas pelo Governing Board (Conselho de Administração, principal instância de governação do GRC), as declarações de princípios e práticas foram endossadas pelas agências-membro.

No que se refere a mudanças climáticas, um dos aspectos acordados é que a desigualdade sócio económica e de género torna certos grupos de pessoas mais vulneráveis aos impactos do clima – algo que deve ser considerado nas pesquisas sobre o tema. O documento também ressalta que, devido à complexidade do problema, os estudos devem abranger todas as áreas do conhecimento (transdisciplinaridade e multidisciplinaridade), além de envolver os cidadãos, os decisores políticos e outras partes interessadas.

As mudanças climáticas já estão afectando todas as regiões do mundo, com impacto para os sistemas naturais, a biodiversidade e a vida humana. A natureza global desse desafio exige que as agências públicas de financiamento de todos os países estejam envolvidas em pesquisa sobre o tema, construindo sinergias e colaborações com outras iniciativas. Para que esse esforço seja efectivo, devem ser criados mecanismos para auxiliar as agências financiadoras de países com economias em transição de modo a diminuir as disparidades regionais para enfrentar essa ameaça.

É uma realidade que existem muito mais oportunidades de desenvolvimento científico no norte global e isso pode levar a uma falha tendenciosa. Por isso, idealmente devem existir oportunidades iguais para os países do sul, de modo que seja possível identificar desafios específicos do contexto local para lidar com os impactos e riscos das mudanças climáticas, e explorar o potencial técnico e económico da mitigação em todas as áreas.

Os membros do GRC reconhecem que essas questões por si só criam uma demanda por pesquisa e oferecem inúmeras oportunidades para financiar projectos que podem fazer a diferença para o desenvolvimento de políticas públicas, fortalecimento de parcerias públicas e privadas, para impulsionar a inovação e buscar uma transição justa.

Sobre recompensa e reconhecimento de cientistas sublinhou-se a necessidade de ir além das métricas baseadas em publicações científicas (factor de impacto das revistas e número de citações de um artigo), tornando o processo de avaliação de mérito mais amplo, holístico e adaptado a cada contexto.

Ainda sobre a valorização dos cientistas, há necessidade de adoptar na realidade de cada contexto motivações que podem enaltecer as mais valias e os ganhos científicos obtidos, quer por premiações e ou por reconhecimento podendo ser a título de exemplo de alguns paises como as agências de financiamento da Polónia, Africa do Sul e outros a rankinzação dos melhores investigadores e atribuição directa de fundos para investigação num determinado ano económico, onde estes para além da pesquisa devem desenvolver estudantes e investigadores no desenvolvimento das carreiras destes.

Em princípio essas directrizes valem para as agências que integram o GRC, mas indirectamente acabam influenciando as políticas das instituições de pesquisa e, consequentemente, os pesquisadores. A agenda da 11ª  reunião reuniu também uma série de encontros paralelos para discussão dos  temas: Igualdade, inclusão e diversidade no ecossistema de pesquisa; integridade e segurança da pesquisa; apoio a pesquisadores em risco, incluindo a avaliação responsável da pesquisa científica, além das questões relativas à colaboração internacional e às actividades futuras do GRC.